Acordei mais resfriada que nunca. Acordei ao som de pancadas, bateção e máquinas furadeiras no quarto ao lado. Marília dava um jeito em seu armário, que caia aos pedaços. Bom, para ela, péssimo para meu sono. Acordei com dores de cabeça. O cheiro de tinta vinda do quarto dela me deu enjôo e eu já estava mega entupida.
Tomei um banho para ver se melhorava. tomei remédio e nada de nada. Fiquei na sala querendo cortar minha cabeça fora, e isso durou umas boas duas horas. Daí cansei de ficar sofrendo sozinha. Acordei a Mari que, tadinha, havia chegado do trabalho de madrugada. Mandei ela tomar conta de mim.
É bom ter alguém para tomar conta da gente quando a gente precisa.
Mari tomou. Depois de passado o enjôo fomos comer. Tomei coca cola, o que foi definitivo para minha melhora. às vezes o veneno é remédio. Meu avô já dizia que coca cola era bom para desentupir pia. Eu acho que é bom para desentupir gente também.
Voltamos para casa e eu soube que Dercy Gonçalves morreu. Que coisa. Ontem Amaury Jr. falava só dela. POis é, eu confesso. Vi o programa do Amaury ontem à noite, enquanto esperava por um render infinito do Avid. Coisas de
Dona Neila que, querendo me fazer companhia e ao mesmo tempo querendo ver tv, me fez ver o programa trash. Ela sempre faz isso. Ver programa trash.
Ontem, quando me despedi de Dona neila, fiquei um pouco triste.
Explico: nossa amizade agora vai passar por uma modificação.
Minha amizade com Dona Neila aconteceu por acaso. Ela é mãe de Lara, minha ex chefa, ou, como diria Mira, minha ex-estagiária, ela é a chefa suprema (título que, alias, Lara adora). Aconteceu de, dois anos atrás (eu acho) Lara transferir à produtora para a casa da mãe, que fica aqui na esquina.
E Neila começou a trabalhar com a gente, em projetos de documentários vários.
Não sei como, mas do nada eu olhei para ela, ela olhou para mim, e a simpatia foi crescendo, crescendo, até nos apaixonarmos perdidamente. Aos canalhas que não me querem entender: paixão platonica. Que é igualmente forte, arrebatadora e diverida.
De qq forma, de repente a gente se ganhou e iniciamos essa amizade nesse lugar que não era bem um escritório, não era bem a casa dela... era um local meio-termo-esquisito. As vezes eu chegava lá e Dona Neila estava trabalhando, às vezes dormindo, ás vezes cozinhando.
Aliás acho que ela me ganhou pela barriga. A moça cozinha bem demais. O insquecível tartar de salmão (eu odiava salmão antes disso) me deixou viciada na primeira garfada.
De qualquer forma, é como se eu freqüentasse a casa de Dona Neila apesar dela, com ou sem ela, e nunca por causa dela. É uma amizade acidental. Acontece diariamente quando ela me interrompe o trabalho porque quer me contar alguma história ou nervosa porque não se entende, jamais, com o PC.
O escritório vai se mudar de novo.
Dona Neila vai-se embora para Lumiar.
E agora só terei Dona Neila se marcarmos.
Fiquei triste.
E por isso o Amaury Jr de ontem teve gosto de despedida.
E Darcy morreu.
De qualquer forma, o blog é sobre hoje.
E hoje, depois que eu soube que Dercy havia morrido, tentei ligar pata Neila para contar. Não consegui falar com ela. Depois embarquei no trabalho braçal que minha mãe me arrumou - transcrição de fitas sobre um encontro de cultura.
É a vida de corno que a gente tem.
Pelo menos por enquanto.
O futuro me aguarda.