Dia de Zumbi
Crise rolando. Entendo: é a tal da crise dos 30.
Achei que não a teria. Está rolando.
Mas não, não quero largar tudo e ir viver na Bahia e vender côco na praia.
Me questiono sobre a sociedade a qual pertenço, o tempo ao qual eu pertenço e meu papel nessa sociedade.
Não quero "seguir vivendo" simplesmente.
Me questiono sobre o vazio que vejo nas pessoas ao meu redor.
Acho que as pessoas não são ocas, mas estão ocas, o que ainda é pior.
Me questiono sobre a burguesia e seus valores.
Sobre a modernindade, morta, extinta, ultrapassada.
Sobre a caretice de uma liberdade dentro dos padrões, sobre a guerra e sobre a paz inerte. A guerra me parece inerte também. Sobre a falta de espaço para o outro, para a tranquilidade, para o pensamento e a criatividade real e espontaânea. Sobre a sociedade de consumo, sobre a evolução da humanidade, sobre os zumbis que tanto me apavoram.
Ligo insistentemente para a Dona Neila enquanto jogo paciência no computador de casa e choro. Choro de uma impotência que têm me pertencido a anos e anos. Lembro de Clarisse, lá na África, lutando para fazer uma diferença não só na vida das outras pessoas, do mundo, mas dela mesma. A admiro e admiro sua força. A quero para mim. Penso como, como, como, como... e como chocolates.
Dona Neila atende e eu saio em disparada para sua casa.
Ela há de entender.
Falo e choro, falo e choro e abraço e ela entende. Ela também vê o mundo e também não sabe o que fazer, direito. Se questiona. Ela tem 60 anos. Ela sabe o que é ser moderna. Ela é moderna. Ela é suficientemente maluca para ser sã. Ela também está em evolução na sua relação com a sociedade e com as pessoas que a cercam e ela me condena:
"Tomara que você afunde nessa crise, que a viva intensamente, que a sofra com todas as forças. E que volte transformada. Porque se você não voltar transformada isso vai ser tão decepcionante que eu vou ter que te dar um tapa na cara".
Rimos e eu a levo muito a sério.
Acho importante essa crise. É excencial.
Discutimos a falta de discussão política e artística na sociedade.
Discutimos a mesmisse da esquerda.
A falta de objetivo.
E eu me sinto consolada por poder conversar com alguém sobre alguma coisa.
(e não estar numa mesa de bar, e beber água)
Geraldo Azevwedo dá uma passada por lá. Eu o acho muito esquisito. Comento com Dona Neila e ela ri e concorda. É seu grande amigo.
Venho para casa esgotada e entro na cama com a mari, que descansa.
Durmo profundamente.
Meu coração está esgotado.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
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Um comentário:
nossa qta vida nessas palavras...qta realidade. Acho que me antecipei 10 anos nesta crise..
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